Bem, aqui estamos a poucas linhas do fim da reportagem. Se eu conseguisse arriscar uma só dica que fosse a campeã para a investigação da persona, eu falaria que mudar a freqüência seria a chave para vermos aquilo que, muito provavelmente, está escrito na nossa cara. Em correspondência a isso, mover a câmera da nossa percepção por dentro, por fora, em nós e nos outros. Rever nosso “fundo das emoções”, questionar a beira rasa dos hábitos diários. Anotar gostos, desgostos, afetos, preferências, manias, gírias, cacoetes. Experimentar dizer diferente, falar de outra forma, sentir o que se sente. Aceitar nossas semelhanças, valorizar nossas particularidades. Em suma, ver, de verdade. “Ousar saber quem se é para poder repensar a vida e tornar-se quem se pode ser”, como afirma Gianetti em seu livro citado anteriormente.
Mas eu, definitivamente, abro mão de saber qual seria o caminho das pedras nessa busca tão pessoal. Prefiro que pensemos juntos em um enorme painel. Onde você pudesse colocar todas as fotos que tem de você mesmo (e as que já perdeu ou rasgou ou xingou e jogou fora). Junto a elas, não economize: anexe as imagens de pessoas importantes de sua vida. Isso, deixe o mural completo, sem faltar nada nem ninguém. E faça de conta que ele existe, digamos, em alguma parede da sua casa. Uma que estivesse no seu caminho quando fosse deixar o recinto, ir para a rua e encarar a labuta. Todos os dias você escolheria uma foto. Em um dia, você olharia para a parede de fotos e seria, novamente, uma criança a jogar bola com os moleques da rua. Noutro dia, voltaria a ser parte da turma da faculdade, cantando a pleno pulmão um dos hits daquela época.
E em um belo dia, sem mais nem menos, você seria apenas o ponto zero, o que não está escrito, o que não foi feito nem fotografado ainda. Seria o ator principal da sua próxima imagem, aquela que você construísse, com consciência, para si e para o exame do mundo. Enfim, um dia, seria você o autor da sua própria identidade, da sua própria vida. Dono da sua imagem.
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